segunda-feira, 21 de maio de 2012

Para Reflexão




Greve da Polícia Militar na Bahia

Por Walter Takemoto

O "Jornal Nacional" divulgou conversas telefônicas entre o Prisco e outros dirigentes de associações de PMs e Bombeiros, articulando apoios para greve e ações voltadas para criar confusão e pânico nas cidades. A partir da divulgação dessas gravações voltaram com mais força as ofensas ao Prisco e outras lideranças da greve. Bandidos. Criminosos. Terroristas. Tucanos. Ao mesmo tempo, nas redes sociais circulam cartazes com "Desocupa Prisco", "Fora Prisco", entre outros. E alguns lançam desafios aos que defendem a greve para se manifestarem após a matéria do JN.



"Qual é a categoria de trabalhadores que não se articula nacionalmente para elevar sua capacidade de luta e de negociação?"

Pois bem, eu me manifesto, pois a defesa que faço não tem nada a ver com a matéria do JN ou de qualquer outro órgão de imprensa. Defendo a partir dos princípios que sempre defendi e que acreditava que os companheiros que estão no governo também compartilhavam.

Em primeiro lugar, pergunto a quem ataca os grevistas por articularem uma greve nacional: qual é a categoria de trabalhadores que não se articula nacionalmente para elevar sua capacidade de luta e de negociação? Principalmente quando até os postes sabem que os policiais estão lutando para aprovar a PEC que institui o piso salarial nacional. Estranho seria se eles não organizassem nacionalmente suas lutas. Mas o pior, o estranho e a burrice é a surpresa dos governantes diante das greves que ocorreram e estão ocorrendo nos estados. Será fruto da prepotência ou da incompetência mesmo?

Em segundo lugar, como parte dos que estão chamando de bandidos e criminosos os PMs por atravessarem ônibus nas ruas, mostrarem armas em vias públicas, entre outros atos violentos, não são desinformados ou alienados, muito pelo contrário, são muito bem esclarecidos, parte militante do PT ou da estrutura partidária, cabe umas perguntas: Irão chamar os militantes do MST de bandidos e criminosos quando invadirem a sede das empresas e depredarem laboratórios? Irão chamar os militantes do MST de invasores de propriedade privada e criminosos quando matarem bois, destruírem plantações? Eu sinceramente espero que não, pois o MST é um dos raros movimentos que se mantém organizado nas bases, vinculado aos trabalhadores rurais, organizando-os e formando-os politicamente. E o MST radicaliza suas ações e formas de luta diante da radicalidade da direita retrógrada ruralista e da incompetência dos governos em tratar a questão rural com a prioridade que merece.

Voltando à greve da Bahia. Não sou favorável a destruir o patrimônio público, incendiar ônibus ou disseminar o pânico como forma de luta em uma greve. Esses não são os métodos mais apropriados, em especial em uma conjuntura na qual existem espaços possíveis de luta política e sindical mais amplo e que permitem articular outros setores da sociedade no embate com o governo.

"Em nome da coerência política e ideológica, e da repercussão que as ações que fizermos hoje terão nos enfrentamentos futuros com a direita, não posso, e não consigo admitir que companheiros o façam tratar trabalhadores, mesmo fardados, como criminosos e bandidos"

No entanto, e sempre cabe um, porém, em nome da coerência política e ideológica, e da repercussão que as ações que fizermos hoje terão nos enfrentamentos futuros com a direita, não posso, e não consigo admitir que companheiros o façam tratar trabalhadores, mesmo fardados, como criminosos e bandidos, pois no limite isso significa criminalizar uma luta sindical que é justa nas suas reivindicações e que chegou no limite da radicalização por incompetência do governo em se relacionar com os trabalhadores do serviço público, como já se viu nas greves dos professores e de outras categorias.

Já ouvi alguns dizerem que esses policiais são truculentos, bandidos, corruptos e que o governo tem que ser duro mesmo com eles. Ora, se são tudo isso, quem os mantém na ativa? Quem ainda não implementou políticas voltadas para requalificar a corporação profissionalmente? Quem é responsável pela política de segurança pública? É o PM que além da jornada como policial faz outra como bico para aumentar o salário de fome que ganha e com a autorização velada de seus comandantes?

E para os que gritaram "Desocupa Prisco", "Fora Prisco", quero dizer que não o conheço, nunca vi e assim continuará sendo. No entanto é engraçado como o sujeito que algum tempo atrás era bem quisto por parte do PT, inclusive fazendo campanha para o partido, agora é demonizado, o novo ACM da Bahia. E cabe ressaltar que esse Prisco, que o governo diz não ser nem mesmo policial, foi expulso da PM na greve de 2001 e anistiado por lei sancionada pelo Lula e ainda ganhou na Justiça o direito de ser reincorporado à PM. E qual o motivo de ainda não ter sido reincorporado? Só J. Wagner pode responder!

Esse é o método mais odioso de se fazer a luta política, que visa destruir o sujeito sem a necessidade de responder ao que defende. É simples: Prisco é tucano, quer ser eleito vereador, mandou assassinar moradores de rua (ouvi isso sem que fosse apresentada uma única prova ou indício de veracidade!), ordenou saquear lojas, etc. Difundida a calúnia, deixa de ser necessário combater suas idéias e o que defende na condição de dirigente de uma entidade e de uma greve que parou a PM no estado. Se as calúnias não destruírem a pessoa, sempre será possível recorrer a uma picareta!

Espero, sinceramente, que os companheiros que estão contra a greve continuem sendo, mas que pelo menos revejam o método que estão utilizando para tentar combater um movimento que reivindica as mesmas questões desde o início do governo J. Wagner e, como outras categorias, ouvem promessas que nunca se concretizam. Como já se disse antes, a história nos julgará.

Walter Takemoto é psicólogo e consultor educacional de secretarias de Educação



Consciência Política PM & BM

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